Roupas baratas e minha consciência
Por Cássia de Sampaio, correspondente na Ásia
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Durante o tempo em que vivi na Inglaterra percebia que muitas liquidações que eu aproveitava eram difíceis de entender (muito baratas!). Lembro de ter comprado umas blusinhas na NEXT que de 20 a 49 libras me custaram apenas 2 libras cada. Tenho-as até hoje, pois eram de boa qualidade! Hoje estou em Bangladesh e tomo conhecimento de que meninas menores de 15 anos e crianças trabalham em fábricas por 10 ou até 16 horas diárias. Se você olhar no seu jeans, talvez descubra que ele foi produzido na Ásia. E é quase certo de que ele custou bem mais que a média salarial paga neste país! Se você estiver no Brasil, talvez não tenha acesso a tal etiqueta, mas se já fez compras na New Look, Top Shop, Primark, entre outras lojas, vai encontrar a informação made in Bangladesh. Todo dia, ao ir para a escola, eu vejo um exército de mulheres indo em direção a estas fábricas. A média salarial mensal que elas recebem hoje é de quarenta dólares; há poucos anos era de vinte. Desta forma, essas pessoas sobrevivem e ainda mandam algum dinheiro para as famílias que moram na aldeia. Nos últimos anos mais de três mil pessoas morreram por acidentes decorrentes das péssimas condições de trabalho, na maioria incêndios. Sobreviver, neste caso, é literalmente comer arroz de manhã, arroz e lentilhas ao meio-dia, arroz com algumas pimentas à noite e beber água, somente água. Só isso, sempre, todos os dias. Muitas delas, bem antes dos 30 anos, já desenvolvem problemas nos ossos por falta de cálcio. Se você estiver indo pegar um suquinho na geladeira e sentir um segundo de culpa ao ler este texto, saiba que sentimos isso o tempo todo em um dos países mais pobres do mundo. Mas se em outro segundo você ficar triste por elas, ORE, pois as piores condições ainda podem ser daquelas meninas que ficam nas vilas e aldeias.
O mundo realmente jaz no maligno!
Segundo o UNICEF, quatrocentas meninas entre 12 e 16 anos são traficadas para a indústria do sexo mensalmente em Bangladesh. Mais de um milhão de mulheres são traficadas por ano no mundo. Normalmente, famílias muito humildes de aldeias remotas deixam suas filhas serem levadas pacificamente, por causa de uma promessa de trabalho na Índia ou em outro lugar. Muitas vezes as meninas se perdem durante o processo de sair da aldeia e chegar à cidade. São encontradas por traficantes e iludidas com uma promessa de emprego; partem, então, para lugares muito distantes de onde viviam. Essas meninas são figuras fáceis de identificar na cidade; enquanto buscam um lugar para si, elas estão sempre assustadas, pois viviam em aldeias muito simples, até sem carros. Assim como no passado tomar conhecimento do bem e do mal através do consumo indevido de um fruto proibido resultou em tantas enfermidades, fadigas e distância de Deus, também o consumo explorativo da indústria manufatureira asiática deixa marcas na história de milhares de pessoas. O que acontece hoje é que algumas dessas lojas, como, por exemplo, a TOP SHOP, que foi revelada em agosto de 2007 pelo jornal The Sunday Times na Inglaterra como uma loja que vendia roupas feitas pelo trabalho escravo, estão vendendo produtos com a etiqueta de "Comércio Justo" – Fair Trade – para salvar a reputação. Ouvimos dizer que na Inglaterra alguns consumidores nunca mais compraram na Primark, a loja mais barata de todas. Eu penso que, ainda que atualmente possamos encontrar algumas iniciativas positivas em relação ao Comércio Justo, a história já vivida entre essas lojas e as fábricas da Ásia não pode ser simplesmente apagada, tampouco os fatos ocorridos podem ser esquecidos.
Sinto-me um pouquinho consolada por conhecer uma história, dentre as milhares de histórias que diariamente essas meninas operárias vivem, que teve um final feliz.
Uma família permitiu que sua filha de 16 anos fosse trabalhar em uma fábrica de roupas em outra cidade, mas de lá ela foi traficada para a Índia, para a zona de prostituição de Calcutá. Uma vez na Índia, e já havia algum tempo na zona de prostituição, foi encontrada por pessoas boas que puderam conectá-la com a família em Bangladesh e
oferecer-lhe um emprego digno.
Os pais, ao receberem notícias da filha desaparecida, choraram de alegria! Hoje ela tem um salário justo, uma caderneta de poupança e, principalmente, liberdade: o que faz toda a diferença!
Consumidor consciente
Em nome da moral bíblica-cristã, creio ser obrigação de cada um de nós levar adiante os protestos contra tudo que for injustiça. A partir do momento que tomamos consciência das coisas, que temos acesso a informações confiáveis, temos de reavaliar nosso comportamento e atitude diante do mundo, dos negócios, amizades, enfim.
A Igreja pode e deve ter um papel relevante para a transformação social dos pobres e injustiçados!
Reflexão no evangelho de Mateus 5.1-25
E Jesus, vendo a multidão, subiu a um monte, e, assentando-se, aproximaram-se dele os seus discípulos;
E, abrindo a sua boca, os ensinava, dizendo:
Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus;
Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados;
Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra;
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos;
Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia;
Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus;
Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus;
Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é
o reino dos céus;
Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o
mal contra vós por minha causa.
Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os
profetas que foram antes de vós.
Vós sois o sal da terra; e se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para nada mais presta senão para se lançar fora, e ser pisado pelos homens.
Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte;
Nem se acende a cados homens, ndeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador, e dá luz a todos que estão na casa.
Assim resplandeça a vossa luz diante para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso
Pai, que está nos céus.
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